O Santa Cruz agoniza

O Santa Cruz, mais uma vez, decepcionou sua grande torcida. A eliminação para o modesto Tocantinópolis não se limita apenas a partida de ontem. Embora o time tenha sofrido com as chances incríveis de gols perdidos, o fato é que a bola para o Santa Cruz não entra por acaso.

Nos idos dos anos 70, era o Santa Cruz a menina dos olhos do futebol nordestino. Clube organizado e bem administrado, o Santa Cruz fazia jus à canção que lhe popularizou: O Terror do Nordeste. Com esquadrão de fazer inveja aos maiores clubes de ponta do futebol nacional, o Santa Cruz chegou a ter Givanildo e Nunes, dois seus maiores jogadores, vestindo a tão sonhada camisa da Seleção Brasileira e, cá pra nós, não decepcionaram. Exemplo de Clube equilibrado financeiramente, naquela época, o “Mais Querido” tinha o técnico mais bem pago do futebol brasileiro que foi Evaristo de Macedo.

Infelizmente, passados anos e anos, a visão de um clube equilibrado e organizado financeira e administrativamente ficou preso ao passado. O Clube enferrujou, involuiu e não chegou, ainda, ao século XXI, razão pela qual sobrevive, em linhas gerais, de cotinhas de seus colaboradores, rifas,vendas improvisadas de subprodutos, aluguéis irrisórios de seu espaço físico e o que é mais cruel: vive da narrativa de um discurso onde prepondera o “coitadismo e vitimismo” tão arcaico e impregnado dentro do clube quanto a própria imagem de um patrimônio corroído pelo tempo ao longo de 40 anos. Com essa indigestiva receita, não há como fazer milagres. Impiedosamente nasce todo reflexo: derrotas e fracassos dentro de campo ficaram cada vez mais íntimos do nosso Clube para o desespero de sua torcida, sobretudo para  geração daqueles que viram o Santa Cruz de Givanildo, Luciano, Ramon, Fernando Santana, Betinho, Pio, Mazinho, Nunes e cia ltda.

De Clube admirado e respeitado, chegando a ser 4º colocado no Brasileiro de 1975, o Santa Cruz passou a viver, amasiadamente, nos porões do futebol brasileiro e não é completamente esquecido das páginas de jornais ou das plataformas digitais, graças a seu patrimônio maior que é a sua ainda numerosa e fiel torcida.

Em 2023, O Santa Cruz participará, pela 5ª vez, da última divisão do futebol brasileiro, algo sem qualquer parâmetro de comparação com outros clubes de semelhante camisa. De 2006 até os dias de hoje, foram apenas duas míseras participações na série A, com direito a rebaixamento praticamente na virada do turno, quatro participações na série B, sete participações na série C e agora cinco na série D.

Vendo esse triste e melancólico cenário, não dá, apenas, para culpar Matheusinho, Furtado ou Macena, nem mesmo Martelotte. Estes são apenas pequenos paliativos para uma pretensa cura de uma doença tão grave e complexa.

O Santa Cruz agoniza…

A grande verdade, é que o Santa Cruz respira por aparelhos há anos. E o pior é que o problema maior não são os remédios ineficazes que lhe são ministrados, mas sim dos médicos e do próprio hospital diretamente responsáveis, ao longo de quatro décadas, por (des)cuidar desse tão querido quanto amado Paciente.